segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Entrevista da Beira TV a aluno da ESE de Portalegre

Na unidade curricular de Comunicação Social Local e Regional, numa das disciplinas da licenciatura em Jornalismo e Comunicação da Escola Superior de Educação de Portalegre, foi proposto aos estudantes que analisassem uma web tv. Natural da Covilhã, Leandro Pina decidiu escolher a Beira TV. Aqui fica a transcrição das respostas ao questionário que o jovem remeteu por e-mail:

LEANDRO PINA: Que motivo levou à criação de uma web tv?
BEIRA TV: A Beira TV, primeira televisão regional de facto da Beira Interior (existia apenas a TUBI – Televisão Interna da Universidade da Beira Interior, em circuito fechado), arrancou a 11 de Janeiro de 2007. A ideia de um canal de proximidade nasceu em 2003 com o interesse em divulgar os trabalhos dos alunos do curso de Artes da Imagem da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART). Com a criação da ZIP TV - Zona Interactiva Politécnica, a proposta seria alargada a todas as escolas do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB). As emissões regulares do canal interno iniciaram-se em Maio de 2005 e mantiveram-se durante um ano, consistindo num alinhamento de conteúdos informativos e artísticos produzidos na ESART e exibidos em algumas das unidades orgânicas do IPCB. Percebida a importância de alargar o projecto à comunidade e a outras temáticas, com a Beira TV enveredou-se por um modelo de especificidade regional, fazendo uso de uma nova plataforma técnica.

Porquê a escolha de uma web tv ao invés dos media tradicionais?
Antecedendo em alguns meses o boom das web tv’s, e com o sector audiovisual então a encaminhar-se para o multiplataforma e para a hipersegmentação, a Beira TV foi um dos primeiros projectos em Portugal a recorrer à Internet como suporte exclusivo de emissão. Dada a necesidade de realçar a instantaneidade e a proximidade do canal em relação à população, este seria o meio privilegiado de permitir o acesso em qualquer altura e lugar a conteúdos de vídeo sobre a região, então escassos, disponibilizando-os de forma gratuita numa plataforma em que estes podem ser actualizados de forma simples e rápida.

Quais os principais objectivos da Beira TV no panorama regional?
Ao disponibilizar conteúdos multimédia relacionados sobretudo com o património edificado, natural e cultural dos distritos de Castelo Branco e Guarda e dos seus concelhos limítrofes, a Beira TV pretendia dar a conhecer e reforçar a identidade da região através de um suporte emergente. Para incrementar a limitada produção própria assegurada com alguns dos recursos técnicos e humanos da ESART, orientados para o ensino e aprendizagem, e portanto subdimensionados tendo em conta os objectivos iniciais do canal, seria necessário estabelecer parcerias com vista à produção conjunta ou partilha de meios com entidades preferencialmente ligadas ao audiovisual, o que acabou por revelar-se difícil. O afastamento gradual dos responsáveis pela gestão da Beira TV e a indefinição quanto às prioridades do projecto, a incapacidade em melhorar a sua operacionalidade, garantir a autonomia e gerar dinâmicas próprias acabaria por causar flutuações no funcionamento e perfil editorial do canal e, consequentemente, nas expectativas criadas junto do público.

Que impacto tem a Beira TV na região onde se insere?
Nos primeiros dois anos, ainda que pouco promovido, o projecto despertou alguma atenção ao se apresentar num novo suporte e com uma abordagem diferenciada dos correspondentes dos canais generalistas, procurando, de facto, assumir uma abrangência regional. Contudo, sem perspectivas de crescimento e eventual autonomização, a Beira TV, há muito em gestão corrente, manteve-se confinada ao universo do IPCB. Volvida quase meia década desde o seu lançamento, multiplicou-se a oferta multimédia na Internet, quer com a aposta de algumas publicações locais no vídeo, como o jornal Reconquista (2008), quer com o surgimento da delegação distrital da Localvisão TV (2009) e da Castelo Branco TV (2011). Sem a componente publicitária, receitas próprias e com um mercado audiovisual aparentemente incapaz de garantir a sustentabilidade destes projectos, resta ao canal o estabelecimento de parcerias e protocolos de cooperação com os restantes media locais e regionais ou demais entidades que trabalhem na área do multimédia, em particular instituições de ensino e empresas produtoras ou detentoras de conteúdos e meios audiovisuais.

Que tipo de conteúdos são difundidos?
Essencialmente informativos, mas também mais ligados ao entretenimento. Os conteúdos informativos estão organizados por áreas temáticas como gente (entrevista), economia (incluindo a tecnologia e a ciência), educação (universidade, politécnico e ensino em geral) e lazer (turismo, natureza e desporto). Para além das rúbricas adicionais, com pouca actualização devido aos motivos já enunciados, inicialmente foi criado um espaço dedicado às produções audiovisuais e produtos multimédia desenvolvidos pela ESART e aos trabalhos feitos pelos alunos no âmbito de disciplinas do curso de Artes da Imagem - ramo de Design Multimédia e Audiovisual. Pela mesma razão, a emissão contínua em playlist acabaria por ser abandonada. Actualmente, no sítio da Beira TV são disponibilizados mais de duas centenas de vídeos, ultrapassando as vinte horas. Grande parte deles estão também disponíveis no YouTube e no Facebook, onde se encontra muito material fotográfico adicional. Junta-se um arquivo de imagens com meio milhar de cassetes com cerca de 600 horas de gravações, e várias dezenas de DVD’s com curtas-metragens e documentários produzidos pela escola.

Relativamente ao profissionais que integram o órgão de comunicação social, qual a formação que possuem?
Para além de um jornalista a tempo inteiro, a concluir o mestrado em Ciências da Comunicação, de início previa-se a afectação a tempo parcial de dois técnicos superiores da ESART, destinados a cumprir as funções de repórter de imagem e editor. Pontualmente, a Beira TV conta apenas com a colaboração voluntária de alunos, num contexto extra-curricular, embora alguns já o tenham feito no âmbito de disciplinas ou projectos finais de curso. Mais irregular é a intervenção de docentes ou funcionários da instituição, bem como de estudantes de escolas profissionais da região, que no canal têm vindo a realizar estágios curriculares.

Têm jornalistas especializados para cada género de conteúdos?
Dado o projecto ter apenas um profissional dedicado a tempo inteiro, é o mesmo jornalista multimédia que assegura toda a produção e distribuição de conteúdos.

Qual o público-alvo que pretendem atingir? De que forma?
O público-alvo continuam a ser os residentes na Beira Interior e todos aqueles com ligações afectivas à região ou interessados no que nela se passa. Mais do que o próprio sítio da Beira TV, ferramentas como os blogues, as redes sociais ou os agregadores de vídeos permitiram transformar as dificuldades em formas privilegiadas de relacionamento com a comunidade, potenciando os conteúdos do canal em plataformas distintas e gerando alguma interactividade com os internautas.

Conseguem ter o retorno do investimento que fizeram, isto é, a web tv dá lucro?
Ainda que o modelo inicial contemplasse o recurso a receitas publicitárias, a falta de um responsável pela área ditou que o projecto assumisse um perfil não comercial, pelo que até hoje acabou por não haver qualquer tipo de retorno financeiro. No entanto, dado haver partilha de recursos, o investimento inicial na Beira TV limitou-se quase que em exclusivo à compra de um servidor próprio. A publicidade divulgada no portal seria a principal base de sustentação, com a inserção de banners e clips de vídeo. Prevista estava também a venda de conteúdos, com a comercialização em DVD de edições próprias, e a prestação de serviços, nomeadamente através da produção de documentários e filmes institucionais, à semelhança do que já se fazia na ESART.

Têm algum apoio financeiro para o vosso órgão de comunicação social? Se sim, qual?
Não. Todos os custos de funcionamento e manutenção são suportados pela ESART e, indirectamente, pelo IPCB, entidade proprietária do canal.

Que recursos humanos e técnicos possuem?
O projecto utiliza maioritariamente os meios técnicos existentes no Centro de Recursos Audiovisuais e Tecnológicos da ESART, entre câmaras digitais, leitores de vídeo e ilhas de edição, utilizados em simultâneo pelos alunos.

Qual a área ocupada pela web tv (em termos de espaço físico)?
A Beira TV funciona num pequeno gabinete do bloco E da ESART, utilizando sempre que necessário recursos técnicos da instituição como os estúdios de áudio e de vídeo, entre outros espaços.

Quais são as principais características a destacar do site da web tv?
Pela sua simplicidade, o sítio da Beira TV visa mostrar que esta é uma televisão diferente, não só na forma, mas também nos conteúdos. Recorrendo a um formato gráfico jovem e a uma linguagem arejada, pretende-se dar destaque aos valores básicos da identidade da região, tais como a Natureza, as tradições seculares, o entorno rural, as gentes acolhedoras e a modernidade. Objectivo comum tem também a marca gráfica, desenvolvida com objectos que representam a ligação à Beira Interior. Decorridos cinco anos, para além da necessária actualização do visual falta, no entanto, melhorar a navegabilidade do sítio, acrescentar novos serviços e reforçar a interligação com as redes sociais.

Qual é a regularidade das emissões (há conteúdos gravados, e reproduzidos repetidamente ou várias actualizações e directos, por exemplo)?
Assim que produzidos, as peças, reportagens, compactos, curtas-metragens, filmes ou documentários são disponibilizados permanentemente em cada uma das rúbricas temáticas. Desactivada a playlist onde alguns destes conteúdos eram reproduzidos, junto com material promocional relativo ao canal, a janela de entrada do sítio da Beira TV é agora ocupada com o streaming de áudio e vídeo relativo à tansmissão de eventos especiais, como os três festivais de tunas de Castelo Branco em que a Beira TV é media partner. Mais esporádicas e a funcionar desde 2008, as emissões em directo permitem testar novas abordagens e produzir conteúdos complementares, divulgando iniciativas de interesse público como colóquios, conferências ou espectáculos, bem como outras que requeiram um acompanhamento diferenciado.

Em termos de feedback do público para uma participação e interacção mais facilitada que meios possuem?
A divulgação do projecto tem assentado sobretudo nas próprias peças e reportagens, divulgadas simultaneamente nas redes sociais (Twitter e Facebook), blogues e portais de partilha de vídeo (YouTube), o que tem permitido aumentar a visibilidade do canal ainda que os meios para o fazer sejam muito limitados.

Têm algum manual ou livro de estilo pelo qual se regem?
Não existe nenhum livro de estilo, embora inicialmente se tenha previsto a criação de um conjunto de normas destinadas as melhorar os fluxos de trabalho.

Para além da web tv, estão inseridos em mais algum meio de comunicação (ex: rádio; imprensa) pertencente ao mesmo grupo?
Dado o enquadramento do projecto, este não está agregado a nenhum outro meio de comunicação local ou regional, embora se tenham procurado estabelecer parcerias continuadas com alguns deles, como aconteceu com a delegação de Castelo Branco da Localvisão TV, ou como se está a tentar fazer, por exemplo, com o departamento audiovisual da Universidade da Extremadura, em Espanha.

Relativamente à publicidade têm conseguido atrair empresas, grupos ou sectores para patrocinar a Beira TV?
Conforme já foi referido, tal não tem sido conseguido. A situação poderia inverter-se ao se reposicionar e reestruturar o projecto com vista à criação de conteúdos e formatos relevantes, diferenciados e de baixo custo que possam ser rentabilizados e distribuídos nas mais diversas plataformas.

Possuem alguma motivação política ou de outro género, ou são completamente independentes?
Editorialmente, não existe nem poderia haver nenhuma ligação política, o que acabaria por afectar a credibilidade dos conteúdos informativos. No entanto, ao estar veiculada a uma instituição de ensino superior, e ainda que esse princípio esteja diluído nos objectivos que levaram à criação do canal, a Beira TV acaba por ser, em parte devido à posição dos responsáveis máximos do IPCB, mais um suporte de divulgação do trabalho realizado nas suas escolas e não tanto uma janela sobre a região em que estas estão inseridas. Quanto à total independência do canal, da editorial à financeira, provavelmente tal só seria possível numa estrutura autónoma, de maior dimensão e com gestão repartida por entidades sem qualquer tipo de interesse pessoal no projecto.